Serviço da Cerveja: Como a cerveja é servida mundo afora

Dia desses fui a um bar daqui e uma coisa me chamou a atenção: serviço da cerveja impecável!

Temperatura da cerveja, copo limpo, espuma correta, preço justo….

Fiquei emocionada! Dias depois, foi a outro recém-inaugurado.

Novamente, serviço de primeira. Que glória!

E fiquei pensando com meus botões…. É tão estranho assim encontrar um serviço de cervejas justo, bem feito, limpo e sem pompa?

Por que me causou tanto assombro encontrar dois ótimos serviços de cerveja em um período de um mês?

Resolvi conversar com um casal de amigos que está passando uma temporada fora do país e avaliar o assunto em outra dimensão, ultrapassando as barreiras da cidade, do país, do continente.

Vamos começar pelo extremo? Bélgica!

Serviço da Cerveja na Bélgica

Copos lindos (em geral correspondentes à própria marca da cerveja servida), limpos, proporção perfeita entre corpo e colarinho (de acordo com cada estilo), temperatura agradável….

É rolhada? Descansa inclinada na cestinha de vime enquanto você aprecia a sua primeira taça.

Minha amiga até tomou esporro do garçom porque ela mesma se atreveu a servir o próprio copo! Imagina… (tá, daí já acho exagero, mas lá é assim).

Mulheres, homens, jovenzinhos em início de carreira cervejeira, velhinhas e velhinhos sozinhos, em grupos…. De segunda a segunda! Sim, é cultural, é respeitável, é agradável e é saudável.

Provavelmente o peso de toda a tradição recai sobre cada dono de bar e garçom, porque fica difícil encontrar um serviço meio porquinho de cervejas por ali.

Dali da Bélgica, um saltito até Colônia, na Alemanha. Kolsh.

Serviço da Cerveja na Alemanha

Kolsh novamente. Mais Kolsh. Só Kolsh. E só é servida na taça de Kolsh.

Parece uma tulipa pequena, mais retinha. Kolsh no copo de Kolsh. Tediosamente Kolsh. Mas impecavelmente servidas!

Não conforme o refinamento belga, mas em consonância com a “alegria” alemã de ter um copo de cerveja na frente.

A Oktoberfest que me confirme! Obviamente sabemos que existe uma infinidade de estilos alemães além da Kolsh, mas a experiência relatada foi de Colônia.

Sabemos, também, do orgulho alemão de sua Reinheitsgebot e cervejas afins.

Até que está havendo uma espécie de “revolução cervejeira” por ali, ultimamente, quando cervejeiros finalmente estão começando a cultivar lúpulos norte-americanos mais aromáticos e intensos que os alemães, de perfis nobres, porém sutis.

Ok. Partiu Holanda!

Serviço da Cerveja na Holanda

Holanda é tipo mãe de todos, galera tranquilona, saca?

Você vai encontrar cerveja de tudo quanto é canto.

Só não vai conseguir encontrar uma IPA fresca, e brasileiro sofre de abstinência…. Bebe-se muita Heineken, bebe-se muita Grolsch. Mais Heineken. Orgulho nacional!

E o mito se confirma: lá ela é mais amarga. Pouco. Aqui, 15 IBU’s, lá, 17.

E tem latão! Siiiiimmmm! E você achando que só no supermercado daqui tinha latão… Mas lá não tem litrão!!!

Lá também não tem cerimônia nem refinamento. Pega a cerva no balcão entre muita cotovelada, mas o cara do serviço sabe direitinho quem chegou primeiro e quem é espertinho. E copo limpo! Sempre! Muita higiene!

Serviço da Cerveja na Inglaterra

Inglaterra. Cervejas refermentadas em cask ales para adquirir a carbonatação ideal, majoritariamente servidas em taps, majoritariamente servidas como Pints.

Espuma cremosa e equilíbrio entre malte e lúpulos terrosos e resinosos. Zoeira no pub, gritaria, música alta, copos limpos. Muito limpos. Sempre.

Pausa na viagem

No meio da conversa com essa minha amiga cervejeira, ela levantou uma questão que achei bem interessante e me fez refletir: em todos esses países com maior tradição cervejeira que nós, não existe garrafa grande (de 600/700 ml).

São sempre long necks ou 500 ml, no máximo, como se fossem “doses únicas”.

Isso, provavelmente, se deve ao fato dos europeus serem mais intimistas, mais sérios, mais fechados em suas próprias vidas.

O brasileiro se abre, se espalha, ainda mais quando está tomando cerveja!

Nós ocupamos o espaço em volta com a voz, com o corpo, com a mesa abarrotada onde sempre cabe mais alguém. O brasileiro gosta de partilhar, compartilhar desses momentos, e talvez, por esse motivo, as garrafas grandes são realidade que não vai deixar de existir por aqui.

E junto a essa prática da mesa de bar compartilhada, surgiu o copo “Lagoinha”, ou copo “Americano”, o tal do copo do pé-sujo.

Créditos para a cervejeira Tatiana Rotolo, mas esse copo deveria entrar pro catálogo dos copos de serviço de cerveja mundiais. Onde quer que você vá dividir uma garrafa deveria estar ele lá, fazendo história e testemunhando as estórias de boteco!

É cultural, gente… Como a cerveja.

Voltando à nossa viagem… América.

Serviço da Cerveja na América

Estados Unidos da América, a meca do exagero e das altas doses de lúpulo. Decalitros de craft beer a cada metro quadrado, ofertas incontáveis em latas, garrafas, taps… Help yourself e seja feliz!

Os copos são usados de vez em quando, inclusive.

A América Central e América do Sul: se não absorvemos o que vem lá de cima, criamos, inventamos e reinventamos. Mas em quesito serviço…

Não vou nem tentar chegar até a Ásia ou a Oceania! Estou me encolhendo e recolhendo, ainda pensando com meus botões sobre os reais motivos da minha surpresa ao ter visto boa cerveja servida corretamente, com preço justo, aqui na capital.

Estamos evoluindo?

Não é bem vergonha, pois ainda estamos dando nossos primeiros passos. Mas deve haver algum motivo muito sério para tamanho sucesso de um perfil das redes sociais que ironiza (mas ensina) cervejeiros e cervejeiras por esse Brasil afora, o Sommelier da Depressão.

É “brazilian pour”, canela de pedreiro, cerveja que parece refrigerante, “gringo pour” à brasileira…

Agora todos sabemos como bolhas aderem à superfície quando um copo está sujo, que não se deve socar a torneira da cerveja nem socá-la na espuma, é criminoso permitir 2/3 do copo de espuma e um tiquinho de cerveja ou gelar a breja até que possa congelar todas as tuas papilas gustativas, etc.

Sim, estamos aprendendo a fazer cerveja, mas ainda estamos engatinhando em quesito serviço. Profissionais do meu Brasil, atentai-vos pra isso!

A experiência do cervejeiro só termina no dia seguinte, quando ele lembra do dia anterior, sem ressaca, e indica o excelente bar de cervejas que conheceu pra mais 3 grupos de amigos!

Servir bem não custa caro, além de otimizar as sensações e acalenta o coração.

Então vamos investir em informação, higiene e boa vontade, Brasil?

Pela atenção, obrigada.

This Post Has 2 Comments

  1. Claudia

    Muito bom, Martinha.

    1. Marta Ibanez

      Obrigada, Claudia! 🙂

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