Italian Grape Ale: Onde a cerveja encontra o vinho

Uma das notícias mais importantes do universo cervejeiro, que aconteceu em 2015, foi a revisão do Guia de Estilos Cervejeiros do BJCP.

Entre muitas modificações propostas nesse guia de referência para concursos cervejeiros (principalmente homebrew), uma me chamou muito a atenção:

  • A inclusão no anexo final do guia uma categoria chamada Italian Grape Ale, codificada pelo BJCP mas ainda não considerada um estilo oficial.

Eu morei 8 anos na Itália, onde estudava e trabalhava com cervejas artesanais, e obviamente fiz muitos amigos e colegas nesse meio.

Sei que essa novidade representa um reconhecimento importante para o cenário cervejeiro italiano porque confirma o forte crescimento cervejeiro dos últimos anos.

Não sei se essas cervejas que “abrem” os olhos do mundo do vinho, realmente nasceram em solo italiano, mas sem dúvida a Itália agora é um ponto de referência nessa tipologia de cerveja.

Resolvi publicar uma explicação e reflexão sobre isso.

As Italian Grape Ales

A legitimidade que a Itália conseguiu do BJCP sem dúvida é um resultado da histórica vocação vinícola italiana, mas seria mentiroso e redutivo pensar que somente esse fato tenha sido a motivação dessa tipologia de cerveja.

A verdade é que em poucos anos os cervejeiros italianos conseguiram destaque internacional com ótimas interpretações desse estilo, convencendo os apaixonados e experts em cerveja do mundo inteiro que a ideia de criar um anel de conjunção entre a cerveja e o vinho, não é assim ultramoderno.

Até mesmo porque nem todos conhecem ainda no detalhe a produção dessas cervejas, hoje vou tentar mostrar as principais cervejas italianas que se encaixam perfeitamente nessa nova tipologia: Italian Grape Ale.

BB10, BB Evò, BB9 e BB Boom – Birrificio Barley

O pioneiro das Italian Grape Ale em solo italiano é sem duvida Nicola Perra, cervejeiro e proprietário da cervejaria Barley na ilha de Sardenha.

A sua BB10 criada em 2008, foi a primeira produção italiana que tentou criar uma ponte entre o mundo da cerveja e o mundo do vinho, usando o mosto fervido de uva Cannonau, uma das uvas típicas da ilha de Sardenha.

Essa cerveja teve tanto sucesso que impulsionou Nicola a experimentar outras receitas análogas nos anos sucessivos:

  • Em 2009 nasceu a Toccò alla BB Evò (com mosto de uva Nasco)
  • Em 2010 a BB9 (com mosto de Malvasia)
  • No início desse ano a BB Boom (com mosto de Vermentino).

Tive a oportunidade de degustar quase todas essas cervejas e o nível qualitativo é imenso, confirmando o ótimo resultado alcançado em produções desse tipo.

L’equilibrista – Birra del Borgo

Em 2010, Leonardo di Vincenzo, cervejeiro e proprietário da cervejaria Birra del Borgo, também tentou percorrer as estradas da Italian Grape Ale com uma cerveja chamada L’equilibrista, que na minha opinião pessoal é o nome mais interessante das cervejas da Birra del Borgo.

Cerveja realizada com 50% de mosto de cerveja (Duchesse) e 50% de mosto de vinho (inicialmente usava uva Sangiovese, hoje acredito seja uma variedade diferente), para essa cerveja ele usa técnicas de Champagne (Remoage e Champenoise).

Todo ano é uma das produções mais esperadas da Birra del Borgo, e você podem entender o porquê!

Limes – Brutòn

Se não me engano foi em 2013 que essa cerveja nasceu, A Limes, produzida pela cervejaria toscana Brùton.

Usa na sua receita mosto de uva Vermentino. A na minha opinião é uma das cervejas que melhor representa esse novo estilo italiano e pode ser considerada quase que um verdadeiro vinho Prosecco, fina e frutada, com uma acidez final elegante e desconcertante.

Se o nível qualitativo final de uma cerveja geralmente depende das matérias-primas usadas na sua produção, nesse tipo de cerveja devemos levar essa consideração também o mundo do vinho.

Justamente o mosto de Vermentino que usam para fabricar essa cerveja é da Fattoria Magliano, empresa vinícola que também é proprietária da Brutòn.

Beerbera – Loverbeer

A Beerbera foi a cerveja que Valter Loverier conseguiu grande projeção no mercado italiano cervejeiro.

Entre 2009 e 2010 percebeu-se que o pequeno produtor de Piemonte (norte da Itália) era já muito criativo com as suas produções.

O primeiro sinal disso, foi justamente a sua cerveja de inauguração, uma cerveja com fermentação espontânea onde é usado mosto de uva Barbera.

Beerbera não é a única Italian Grape Ale da cervejaria Loverbeer, temos também a D’uva Beer com mosto de uva Freisa.

Ligia – Birrificio Sorrento

Por muitos anos foi uma cervejaria “cigana”, a Cervejaria Sorrento.

Com a evolução de suas cervejas, finalmente comprou seus equipamentos industriais, e com isso tornou-se uma cervejaria.

Esse update permitiu aperfeiçoar as suas receitas e sobretudo de aventurar-se em novas produções.

Entre elas a Ligia, apresentada em um evento cervejeiro. Realizada com mosto de uva Furore, revela um nível qualitativo muito alto e provavelmente uma das melhores interpretações desse estilo que nasceram nos últimos anos na Itália.

Birrozzo – Birrificio Stavio

Na ampla gama dessa cervejaria “cigana” encontramos criações que se adequam muito bem as Italian Grape Ales.

As diversas versões da cerveja Birrozzo usam vários ingredientes provenientes da vinificação, com resultados surpreendentes.

Em alguns casos é utilizada a espuma da fermentação do vinho para desencadear a fermentação do mosto de cerveja, usando diferentes uvas em versões diferentes da Birrozzo.

Tuscan Pool Party – Olmaia + Harpoon

O crescimento da fama das Italian Grape Ale provavelmente vai fomentar muitas cervejarias não italianas a fazer colaborativas com algumas cervejarias italianas para criar cervejas desse gênero.

Um primeiro exemplo tivemos no ano passado quando a cervejaria americana Harpoon realizou juntamente com Moreno Ercolani da cervejaria Olmaia, a Tuscan Pool Party.

A receita usa no final da fervura uvas Sangiovese e Merlot provenientes da Califórnia.

Outras Italian Grape Ales

O elenco é obviamente enorme e destinado ao crescimento nos próximos anos.

Merecem ser nomeadas:

  • Moscada e a Rufiana da cervejaria Birranova – Respectivamente com uso de mosto Moscato e Minutolo)
  • Tibir e a Open Mind da cervejaria Montegioco – Respectivamente com uso de mosto Timorasso e Croatina)
  • Jadis da Toccalmatto – Com mosto Fortana
  • Confusa da Cervejaria Lariano
  • Bliss Riesling da Cervejaria Pavese – Com mosto de Riesling
  • Filare da Cervejaria Pasturana – Com mosto Cortese
  • Perbacco da Cervejaria Gedeone – Com mosto de uvas aromáticas não especificadas

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